quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Esfrega, esfrega, esfrega. Limpa, limpa, limpa, limpa. Até tornar a...a repetir? Repetir, repetir, repetir. Copiar, copiar, copiar. Até tornar a...ser diferente?
Está constantemente suja de seu jeito. Imunda de si mesmo. Cospe, cospe, tose.
tropeça, cresce, sorri. Uma flor desabrocha em sua cabeça. Nesse mato cheio de cacoete e carrapicho. Uma flor. Uma flor! Mantê-la? Deixá-la? Como? Flor vira árvore? Árvore vira pássaro? Pássaro dá o que? Corre, chora, grita. Frio, frita, foge. Até ficar bonita. Até ficar distinta. E ter virado pássaro. Pássaro dá não sei o que, mas é melhor que isso dai.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Estou sendo atacada ultimamente por uma série de reflexões. Digo atacada porque muitas delas insistem em fazer parte de minha vida, mesmo que eu não queira, pelo menos no momento. Mas a reflexão é sã. Esta fase da minha vida tá sendo um turbilhão. Minha monografia tá me abrindo para outros mundos. Cai na matéria de Estágio, para acompanhar a professora da disciplina, que por brincadeira do destino também é minha orientadora. E fato é que ela me escuta, escuta a tal ponto de fazer uma série de modificações na maneira do estágio, por conta das reflexões compartilhadas. E as mudanças tão vindo tão depressa que eu tenho receio de não captar, de fugir por entre meus dedos e eu ficar estagnada numa monografia sem frutos. Entretanto, esse medo é besta. Os frutos tão vindo antes mesmo dela terminar, antes dela começar na verdade. Recebi ainda um convite de um projeto da Universidade sobre a Licenciatura para participar das atividades de um grupo de trabalho sobre o estágio. Minha chance de contribuir, de ver as coisas acontecendo... ou tentando acontecer. Mas me amarro numa reunião que acontece no mesmo horário. Ou fica na verdade como uma desculpa pra eu não dar minha cara à tapa. Tem um mundo acontecendo à altas velocidades. Difícil acompanhar. Mas melhor assim. Saber que as coisas vão andando, sem precisar de empurrá-las.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O fazer ciência é mesmo coisa de louco. E por toda a parte que ando tem o sujo falando do mal lavado. Os que se dizem cientistas distintos, apenas reproduzem o que criticam , só que por outro lado. Se dizem abertos ao diálogo, mas quando tem uma orientação de estudantes de graduação se fecham em suas bíblias teóricas e em seus óculos de sempre. NÃO HÁ DIÁLOGO! Mesmo no tentar fazer diferente. Não há. Não se enxerga, não se escuta. Não se entende, nem se aproxima. Essa foi a experiência que tive com a Etnociência. Alguns outros são distintos. Há professores que te escutam, que orientam, que compartilham. Dessa forma acredito que se faça o diferente, se construa algum projeto diferenciado de educação e de ciência. E não apenas no criticismo sem simetria, sem olhar pra si mesmo.

domingo, 18 de novembro de 2012

Ouvindo aqui quetinha no sofá a banda Eddie de Olinda-PE, fui lembrando de umas coisas. A música realmente tem o poder forte de rememorar-nos. E mais que tudo: a música tem poder de cura. Ouvindo Eddie me lembrei do momento que me tornei viciada pela banda, ouvia quase todo dia, sabia suas letras. E mais que isso, criei sensações próprias daquela época. Vocês tem disso? De se lembrar do que você pensava naquela época que era viciado numa tal música ou banda? Eu sim. Lembro como me portava, meus medos, onde morava, com quem me relacionava, meus desejos. E lembrei do momento ruim que vivi há dois anos e me apegava à música, ao Eddie, a Rhaissa Bittar, à Karina Buhr, a Dea Trancoso. Foi minha época de cantores nordestinos e norte mineiros. Foi minha época de descobrir a Etnobiologia. De descobrir sabores e terras norte mineiras, sua gente, sua especificidade e universalidade. Foi a época de compartilhar longas viagens de campo com pessoas desconhecidas mas que vieram a se tornar muito próximas. Foi a época de começar a morar junto com o Vinícius. De descobrirmos juntos nossos defeitos, fraquezas e de sermos honestos, ou acreditar que estávamos sendo. Mas lembrando de mim naquela época que passei uma das maiores decepções da minha vida amorosa ou de qualquer tipo de vida minha, amorosa ou não, vejo como enfrentei a situação. Primeiro, calada, aceitei a segunda chance dada. Depois, remoída, remexi, mexi, gritei, insinuei, bati, chorei. Foi um redemoinho. Depois, fomos nos aprochegando e perdooei. Mas não esqueci, ainda hoje não esqueço, mas não é mais aquela dor grande. Lembro todo dia, antes de deitar, ou qualquer outro momento. Mas é mais como algo que tenho que aceitar na minha vida, parte de minha história. Algo mais assentado. Aprendi a amar. Foi isso. Amei. E fui me amando também. Me tratei com música. Lembro de ir ao samba do bar do Marcelo sozinha. E voltar sozinha pra casa. Com olhos cheios de água, mas o peito leve. Sem conversar com ninguem. Sorrindo quando me convinha. Podia voltar na mesma hora que botasse os pés lá, mas eu tava me tratando. Era minha cura. A cura pra não ficar louca. Pra não perder a alegria de vida. Pra pesar bem as coisas. Como cabe em qualquer desilusão amorosa, ou de qualquer tipo. Me virei sozinha. Mas não de todo só. Vinícius esteve sempre presente, paciente, amoroso. Me ajudou, me entendeu. Mas a música foi a médica e a medicina. A música e a sensação de vida que ela desperta. Por isso, é bom ouvir música. Se reconhecer nela, deixar-se fluir, levar. É sempre bom se alimentar de música.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Olhos de Jardim- Parte 2



Sou de prosa, não sou de rima
Que posso fazer se sou assim desde menina?
Me reconheço nos prozares, vou construindo assim minhas histórias.
Hoje venho cantar a uns olhos.
São olhos claros, de longe, talvez.
Chegaram na minha vida e foram se adentrando.
Pedindo licença, emprumando.
E ao mesmo tempo sem nenhuma cerimônia
foram do meu querer bem se apossando.
Que mistério há nesses olhos!
O que já não viram?
Quanto já não choraram?
Olhos de pássaro, cantam
E vão me encantando com sua meninice.
Encantada estou.
 E não me canso.
Sou ninho que abraça seu pássaro.
Que cores há nesses olhos!
Quantos lugares já não coloriram?
É de cor que me enche o peito
a cada lágrima, a cada muda conversa
a cada lado compartilhado.
Verde, amarelo, terra.
Retira as flores, as revira.
Murcha folhas, as revigora.
Com toda força e pureza de chão
Chão fecundo, chão que quer todo o mundo
Flor, folha, chão:
De que são feitos esses olhos?
De estrela, de lua, de noites
De manhãs, de sonhos
Olhos decididos
Olhos amigos
Olhos do meu amado
A quem agradeço por estar do meu lado
Olhos com pragas
E com esmero
Olhos de inchada
e de marmelo
Olhos de línguas antigas
Olhos das novas
que rodopiam, rápidas
olhos de jardim
Olhos de homem
que chora
Olhos de companheiro
de olhar perdido
Olhos bandidos
que me gateiam
e me ensinam novas rimas
Assim espero, assim escolho
que sejam olhos de nosso jardim
por todo o nosso sempre, sem fim.

Olhos de Jardim- Parte 1




Chegou na minha vida como quem nada quer
querendo tudo, derrubando meu muro
dizendo coisas de homem e mulher
revirando meu futuro

Por conta de uns "olhos de jardim"
é que me encontro assim.
O que será que há nesses olhos?
o que será de mim?

Fico nesse intento
colocar em palavras este menino
Não sei o que sairá deste invento
Mas meu coração canta este hino.

Discreto, singelo e envolvente
é o segredo que esses olhos revelam
enchendo meu peito e minha mente
com as flores dessa terra por nós velam

É de um amarelo girassol
o olhar do meu amor
Mesclado com um verde espanhol
Com a força de um cantor

Deles flores crescem
Nunca me esquecerei
Das sementes que dentro de mim nascem
felizes a seu rei

Amo. Sem rima. Sem tom.
Amo. Pois nossa história é real.
É a coisa mais linda e delicada que nasceu em mim.
Mesmo com todas as más ervas que puderam desta terra brotar.
Esses olhos em mim acreditam e me ensinaram a amar.

Amo. E não sei viver com esse vazio.
Você me preenche.
Rompo florestas, encanto duentes
a seu lado, como meu bem amado.

Desse meu querer
que me faz derramar as mais puras lágrimas
ainda há muito que nascer
muitos lugares, sentires e rimas.

Porque te amo
Disso tens que saber
Mesmo no momento mais escuro
Mesmo no meio de toda desilusão
É teu meu coração.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Ah, mulher, hoje eu tenho que te confessar. Olho pra toda mulher que na passa na rua. Procuro reconhecer nela alguma outra que tive em minha cama, num dia qualquer. Suas formas, seu sorriso, seu jeito de prender o cabelo e de arrumar o decote. Confesso, eu faço isso. Na verdade não é qualquer uma que fisga meu olhar. Não acho que meu amor por ti diminua, mulher, entenda. Sou homem, gosto das formas, dos cheiros e dos arrepios.

Ah, homem, hoje eu tenho que te confessar. Adivinho cada olhar seu ao ver uma mulher passar. Prevejo seu gosto. Ilusiono histórias compartilhadas entre você e aquele par de pernas. Te imagino acariciando-lhe o corpo, sussurrando amores vãos ao seu ouvido. Confesso, eu remordo isso. Mas sei que não é qualquer uma que te encanta. Tenho meus receios de que não me vejas mais, que o amor tenha perdido esse arrepio, essas formas e aromas.

Mulher, se lembre de nós. Lembre-se dos nossos lençóis. Sim, tive muitas, poucas ficaram, agora é você. A de agora. Deste presente viver.

Homem, se lembre de nós. Quantos foram nossos lençóis! Por que esquecê-los no andar daquelas coxas? Sei que muitas hão de existir. Espero que para nós dois. Mas enquanto isso, venha e não me esqueça.

Mulher, não me entenda mal. Não tenho controle sobre meu olhar carnal. Duvido que haja homem (hétero ou homo) que tenha. São os hormônios, sabe? Homem também tem dessas coisas. Mas sempre que me apercebo do que estou fazendo, procuro desviar o olhar. Pois eu sei que você sabe. E não quero te machucar. Posso me esquecer de muitas coisas, de muitas outras que já passaram na minha vida. Mas não me esqueço do meu presente. Que é você, querida.

domingo, 9 de setembro de 2012

Tinha que escrever. Tirar qualquer substância ruidosa do seu ser. Fazer ponto, pingar o i. Tinha que ser feito. Hoje mesmo, agora. Nem era pra organizar ideias, pra botar pra fora. Era escrever. Sentir o papel ser preenchido. Preenchido por qualquer coisa. Nem precisa mais de qualidade assim. Tamanha necessidade. A mesma coisa está sendo sua vida. Tinha que viver. Qualquer sensação de verdade. Mas ultimamente tem sido exigente. Quer o autêntico, o inédito. Cansou até da sua própria repetição. Repetição que a fazia ser quem foi. Na verdade não é escrever o que quer. Quer a sensação do preencher. Do branco a se abrir a cada virada de folha. Qual a próxima? Como serão os próximos passos? Casar? Brigar? Dançar? Quer se reescrever. Já sabendo que até esse sentimento nela se repete há quantos anos! Tantos. E por que? Por que ela é assim com a vida? Ao mesmo tempo calma e ar-dor? Tem tudo isso dentro. Confuso.  Nem está mais dormente, nunca esteve. Pra se sentir assim, tão de repente, é porque algo sempre esteve ai. O que será? É fogo no rabo! É vontade de ter poeira no sapato. Que juntar escovas que nada! Quer é criar céus compartilhados. A cada dia um teto estrelado novo. Como juntar isso com as outras vozes dentro de si? Como ser doce e azeda ao mesmo tempo? Nova vida? Possível? Hoje nem se importa com as ligações não recebidas. Hoje quer é brincar de telefone sem fio. Não lhe importa mais o pavio. Não... Não! Já carrega algumas mágicas na mochila, já tem alguns anos a frente dessa jornada. Sabe muito bem tentar se virar. O que tem que fazer agora é lustrar o sapato e dançar nesse salão. E já vai tarde!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Poder dizer não, também é uma libertação. Não vou a sua festa. Não gosto de você. Não quero relação profunda com você. Poder realmente escolher os momentos para compartilhar com quem você de fato quer, também é liberdade. E eu de fato digo NÃO! E como me sinto mais leve. Sem peso. Sem ter que sorrir. sem ter que conviver. Sem ter que ser um eu forçado, entremeado por riso e choro. Não conviver com quem não te faz bem é uma libertação. Tão-bem.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Estou aqui exercendo o processo de olhar pro próprio umbigo. Não que seja o processo mais importante da vida. Mas de vez em quando ele deve ser feito. Até pra gente conseguir viver melhor com outras pessoas. Estava tentando me analisar desde quando comecei a usar homeopatia. Comecei usando pra tirar um funguinho de meu corpo que vira e mexe enche o saco. Ele volta sempre. E até agora não se foi por completo. Mas virou outro tratamento. Trato os meus sentires. Ah! Sinto! Sinto e muito. Como muitos. Sinto por demais. Mas uma das coisas que sinto muito e que me faz muito mal é o ciumes. Não que aqui seja novidade, nem para os que me conhecem proximamente. E ele tem sido tratado. Acho interessante a forma que a homeopatia age. Trazendo lá de dentro as coisas que mais te incomodam. E logo nas primeiras bolinhas que coloquei pra dentro, já sentia o ciumes e seu veneno ainda mais latente. Os conflitos acontecendo. Eu tendo que lidar com aquilo, queira eu ou não. Briguei. Chorei. Passei raiva e vergonha por estar sentindo aquilo tudo tão irracionalmente. O melhor e mais importante é que fui eu. Mostrei meus medos, meus porquês, tentando me fazer entender. E tô me entendendo aos poucos. Passa um tempo e vejo que a confiança cresce, tanto em mim quanto no outro. É isso que preciso. Mas com autenticidade. Sabendo que não é de um dia pra outro que meus conflitos emocionais vão se resolver, mas sem deixar de caminhar e pra frente. Superar. Isso se pode. Deve-se. Dever com a vida e consigo mesmo. Queria dizer isso. Tenho conseguido. Os momentos e pensamentos se fazem presentes, mas cada dia são menos intensos. Caminhando.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

À vida

A vida devia ser regada como uma plantinha. Pra ver nascer raiz, folha, flor e fruto. Saindo preguiçosamente do conforto seminal. A vida devia esquecer da terra ruim onde já germinou e aceitar a terra adubada aonde está. Seja na lata, seja no barranco, seja na mata. Qualquer lugar dá pra brotar! A vida deveria agradecer pelas suas raízes, sabendo que é apenas uma parte de si, mas investir mais na força do tronco, que traz pra cima e na vitalidade das folhas, que relacionam. A vida é verde, porque tem mau gosto e tem espinho. A vida é cor porque tem besouro pra dela se alimentar e tanino pra o paladar rejeitar. Faz parte do verde. A vida devia cultivar delicadamente suas flores, saber dar pra receber. Pra qualquer um que queira receber. Porque "mal me quer-bem me quer" é jogo de sorte. Mas também é escolha. A vida não devia se envergonhar de seus espinhos. E estar pronta para usá-los quando convier, com a sabedoria da vida de uma borboleta apreciando seu único e infinito dia. Mas a vida, mais que tudo, devia amar seus frutos, reconhecê-los, apreciá-los, sabendo que um dia eles se irão. E deles há de ficar a vida em promessa. Vida pura, vida já vivida, ciclada e revivida.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Eu- com muito cuidado ao ser lido, a homeopatia tá liberando o sal.

Siça é uma menina (?) que complica. Desde sempre foi assim. Tudo era ouuuutra coisa, ou melhor, poderia ser. Ir pra uma festa, tomar um sorvete com a amiga, ir na casa de outra, virava um drama pessoal. Ainda vira. Siça teve vários namorados, imaginários, digo. Sonhava com um, esquecia, sonhava com outro. E tentava sair da oniricidade dos fatos, mas sempre ou era viagem demais ou já tinha perdido o bonde. Siça sempre teve complicações com a família. E não que a sua família fosse fácil, mas ela tinha o dom de complicar mais. Isso foi passando, mas só porque ela se calou. E calou por que? Será que entendeu, amadureceu? Ou perdeu a paciência? Sim, porque paciência é uma exercício, mas nisso, Siça é a maior sedentária. Na sua infância brincou muito, mas desde lá a bagunça já estava traçada em sua vida. Confusões familiares, amores platônicos, ciúmes casuais... Veio pra Viçosa. Nesse vai e vem de tantos lugares que viveu, veio pra Viçosa. A terceira vida que teve. Mas ainda, de início, não estava pronta pra um novo. Cultivou o antigo, a nostalgia, a rebeldia de não se livrar da infância. A adolescência vem de um jeito forte. Brigas constantes, amores distantes, o colégio de filhos de papai que escolheu entrar e as amizades que não queria cultivar. Mas cultivou. agora não colheu nenhum fruto e são folhas soltas. Se desgarrou. Aprendendo a viver com a cidade, namorou. Namoro estranho, mal vivido, cumprido nos seus poucos meses de duração. Não tinha um corresponder e sua vontade de viver era grande era pro agora. Ondas diferentes, o namoro acabou. Caiu no escuro, brigou com o mundo. Ficou assim encerrada quase um ano...a fotografia, os filmes, a música a salvaram. E não é sempre assim? Passou. Será? Ainda ficou muita coisa em Siça. Como sempre fica. Ela lembra sempre das piores falas, dos abandonos, dos desencontros. É o que fica pra Siça. Como se não houvesse mais nada do que se enamorar. Ai Siça. Entra na universidade, se livra do seu último amor distante. Ou ele se livra dela. Sem ordem definida. Porque Siça nunca soube dizer adeus. E ninguém entende isso. Ela sempre prolongou tudo,até se cansar e por fim soltar. E quando solta, se vai. Como se nunca tivesse acontecido. A universidade era como algo lógico a se fazer. O curso que pensara. E nada.

[continua]

domingo, 29 de abril de 2012

Hoje fui em todas que se mostraram disponíveis. Olhei. Frio na barriga. Por que aqui estou novamente? Tenho que aprender a lidar também com isso? Dar "Bom dia", ver a foto, virar a página. Seria bom. Mas é exigir demais de si. É quase querer que se vire uma máquina de gente. O que seria da gente sem sua mágoa, suas cicatrizes, seus desamores não curados? Seria igual a qualquer um. Sem história própria pra contar, sem marcas pra diferenciar. É assim, ou não é? Fazem parte de mim. Não que as queira bem ou perto. Apenas sei que existem.Olho de longe. Mas não queria mais lembrar. Deixar lá. Naquele lugar. Naquela lembrança. Já disse que o pior da lembrança é ela não ser sua. Ah! Fico até esquecendo das MINHAS. Sabe quando a gente olha pra si mesmo e não se reconhece? Se esquece.Ainda bem que há outras pra nos lembrar de nós mesmos. Porque nisso de se reinventar o tempo todo, muita coisa fica, mas alguma coisinha vai. E nessa coisinha que vai pode estar algo de muito importante. Lembrar disso é preciso, de resto, esqueça!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Já tem duas semanas que ele foi dar uma volta. Qual será o seu paradeiro? Há que ter esperança de que ele voltará. Ele vai lembrar da gente... do carinho, das brincadeiras de esconde-esconde nas paredes de casa, da caçada de pulgas toda manhã, dos chamados, das risadas no chuveiro. As lembranças bonitas que construímos juntos. Ele há de se lembrar e voltar. Porque de mim elas não saem. Engulo o choro, penso em outra coisa, mas é dele que sinto falta. E não pode tudo acabar assim, sem laço nenhum. Ele há de pensar em nós. Há de lembrar das noites compartilhadas, dos xamegos, da nossa cama. Mas o que será do meu pequeno?

A garganta dói mais à noite. Serão coisas não faladas ou sintoma homeopático? Tem quase duas semanas que comecei a tomar essas pílulas. Tenho observado algumas influências. Tem vez que não consigo segurar o choro e é por sentimentos já tão interiorizados que parece um alívio vê-los em forma de lágrimas. Eles vão. Não voltam. É como se estivesse deixando de segurar só pra mim aquilo que sou. Aquilo medroso, sonhoso, e nervoso que sou. Isso é bom. Isso me acalma. Tem muita coisa que vem de volta, remoída, mas que não consegue sair ainda fácil. Fico segurando porque tem implicações em outras pessoas, então há de se cuidar pra não machucar. A gente não sabe o peso que carrega dentro de si. Vai apenas vivendo, sem perceber que de mágoa em mágoa a gente vai miudando. E mudando. Acho que isso também me deixa nesse estado desequilibrado. A vontade de colocar em prática tantos sonhos que tinha pra mim, tantas formas de viver que imaginei poder fazer e a nostalgia de não ver acontecer tudo aquilo que pensei que seria. Pequenas coisas que quando lembradas renascem todo o fervor de uma adolescente com o mundo aberto, sem muitas raízes e com as mãos fáceis. Da nostalgia também tenho que me livrar. Porque fui escolhendo até chegar onde estou. Há de se entender isso. E não há tristeza em ser como sou. Apenas algumas remexidas e mais aceitações próprias. Tirando isso, deveria ser tudo leve. Tem saído o sal que me alimenta. Sou feita dele, preciso dele. Sem ele não serei eu. Só tenho que aceitá-lo e não deixar que me faça sofrer. Essa é a diferença pro estado que me encontro. Perdoar sem segurar mágoas. Isso é tão difícil. Sou rodeada delas. Porque deixo.
Post confuso!
Quis sair de mim em forma de palavra, deu no que deu. Há de me perdoar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Queria ter sangue de rio.
Criar enxurrada, levar a garotada pra sentir calor na chuva.
Chuva quente que molha o pé.
Essa sangria corrente em mim
conhecendo beiradas, sem muro pra por fim
arrebentaria tudo:
passado, presente, futuro.
Só ouviria falar, se um dia eu virasse sangue de rio,
pelas pedras, pelos peixes e pelo vento,
da mulher que um dia fui
dos medos que um dia nutri
dos ciúmes doentios em que me meti.
Só ouviria esse sussurrante fofocar,
acharia graça
mandaria à outra margem distante e fria
aquelas lembranças mais inúteis:
as que nunca foram minhas.
Se um dia meu sangue fosse rio
não haveria pranto
não haveria vazio.
Eu voltaria
gotejante
alegre
e tranquila
pra sua pia.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Mato: para matar meu hiato. Por fino trato, se acaba mudo. Ou miúdo. As cores, as velhas, as rompantes, as eternas, cada um aquarela como bem entender. Estou misturando as minhas. Vendo no que dá. Quem sabe...

E numa manhã, cansada das joias da noite, cansada dos licores, das muitas sedas, dos muitos tatos... e numa manhã, ela pega sua toalha e sai.
Demorou pra perceber que andava descalça de rumo. Como também demorou pra perceber que há muito tempo já não tinha prumo. Mas naquela manhã, ela se deu conta dos verbos, das entrelinhas, de todo o sentimento falso que nutria.
"Ah! Mas ERA!"
Deixou o asfalto que lhe acolhia seguramente todos os dias da casa dele pro trabalho. Subiu na calçada que traçava em toda a cidade um sentido certo... pro nada. Lembrou daquela gargalhada que ele dera quando lhe disse que não mais o amava. Sentiu como se isso fosse história de uma outra vida. Agora, o que lhe era urgente era esse calor subindo na ponta dos seus dedos. Essa luz doce afagando seus pelos, acariciando sua pele, seu ego, seus cabelos, seus olhos, lábios, mãos, ombro, pescoço... Já se recordava de si. Ali mesmo foi onde tudo começou, há anos. Sorriso leve, cabelos soltos. A vida que levaram juntos foi prendendo seus cabelos aos poucos e o sorriso nunca mais lhe pertenceu. Até ali. Até aquele momento digno de sua beleza.
Pegou a toalha. A olhou com tamanho entendimento. Sentiu a areia em seus pés. Areia que tanto o incomodava com o passar do tempo. Sorriu. Olhou aquele imenso azul bravo a sua frente, com toda a humildade humana e reconheceu ali o seu significado.
Estendeu a toalha. E sem se lembrar mais de nada, o esqueceu. Entre sorrisos, livrou-se de tudo que a prendia. E naquele dia os transeuntes viram uma mulher que se despedia para sempre do seu rancor.