quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Quero-quero

(quem dera eu tivesse escrito isso. Mas copio. Li em algum lugar uma certa vez que os escritores que gostamos apenas tomam emprestado o que queríamos ter escrito. Pensamento aconchegante por demais esse! um dia tomo coragem e escrevo o que de fato tenho pra escrever e que fica num caderno vermelho e velho na gaveta.)

O QUERO-QUERO

Natureza será que preparou o quero-quero para o mister de avisar? No meio-dia, se você estiver fazendo sesta completa, ele interrompe. Se está o vaqueiro armando laço por perto, em lugar despróprio, ele bronca. Se está o menino caçando inseto no brejo, ele grita naquele som arranhado que tem parte com arara. Defendendo-se como touro. E faz denúncias como um senador romano.

Quero-quero tem uma vida obedecida, contudo. Ele cumpre Jesus. Cada dia com sua tarefa. Tempo de comer é tempo de comer. tempo de criar, de criar.

É pássaro mais de amar que de trabalhar.

De forma que não sobra ócio ao quero-quero para arrumar o ninho. Que faz em beira de estrada, em parcas depressões de terreno, e mesmo aproveitando sulcos deixados por casco de animal.

Gosta de aproveitar os sulcos da natureza e da vida. Assim, nesses recalques, se estabelece o quero-quero, já de oveira plena, depois de amar pelos brejos perdida e avoadamente.

E porque muito amou se ganhou de amar desperdiçadamente, seu lar não construiu. E vai conceber no chão limpo. No limpo das campinas. Num pedaço de trampa enluaçada. Ou num aguaçal de estrelas.

Em tempo de namoro quero-quero é boêmio. Não aprecia galho de árvore para o idílio. Só conversa no chão. No chão e no largo. Qualquer depressãozinha é cama. Nem varre o lugar para o amor. Faz que nem boliviana. Que se jogue a cama na rua na hora do prazer, para que todos vejam e participem. Pra que todos escutem.

Não usa o silêncio como arte.

Quero-quero no amor ém desbocado. Passarinho de intimidades descobertas. Tem uma filosofia nua, de vida muito desabotada e livre.

Depois de achado o ninho e posto os ovos porém, vira um guerreiro o quero-quero. Se escuta passo de gente se espeta em guarda. Tem parenteza com sentinela. Investe de esporão sobre os passantes. E avisa os semoventes de redores.

Disse que pula bala. Sei que ninguém o desfolha. Tem misca de carrapato em sua carne exígua. Debaixo da asa guarda esse ocarino redoleiro pra de-comer dos filhotes.

De olhos ardidos, as finas botas vermelhas, não pode ver ninguém perto do inho, que se arrepia e enfeza como um ferrabrás.

Passarinho de topete na nuca, esse!

Manoel de Barros

(quero-quero é quem quero-querer.)

João hoje me disse, em conversa de RU, que céu de Montes Claros é grande. Isso porque mata seca de lá é de árvore miúda. Dai o céu fica majestoso. E o ser fica ,de tão grande, SER-TÃO!

Palavras bonitas de um menino tão bonito como João. De pele morena e olhos vivos negros. Cabelos de cachos negros. Seu rosto é como o céu do Norte: Cabelos negros ,olhos estrelados, sorriso luando...

sábado, 16 de outubro de 2010

"Há males que vem pra bem"

Alguém me diga como se perdoa. Ou melhor, o que se perdoa.
Alguém me diga o que é traição. Ou melhor, o que não é traição.
Alguém me diga o que é ilusão. Aliás, o que não é ilusão?

Sinto vontade de compartilhar aqui uma história que me está acontecendo. Mas  não me sinto confortável com ela. Queria que ela nunca tivesse nascido. Abortada deveria ter sido. Mas ela existe e eu tenho que lidar com ela.

Seria comum pensar que temos que passar por maus momentos para aprender...aprender....aprender...o que?

Na minha passagem por Montes Claros visitei minha grande amiga Ju. E sobre essas "provações" da vida estivemos a conversar. Ambas temos passado, a sua maneira, por maus bocados. Ou bons. Mas ela me questionou algo, ou deixou em mim a questão.
Será que temos mesmo que passar por maus momentos para crescer?

...

Eu tenho me repetido por um tipo de mau momento nesses últimos meses que é o ciúmes e a insegurança. Ambos tem que ser tratados na sua origem. Mas eu não sei qual é essa dita cuja. E lá vem mais um momento de ciúmes! Mas não tenho aprendido, e ele vem se repetindo junto a outros sentimentos como desconfiança e dúvida. Se não tenho aprendido, esses momentos não estão sendo assimilados ou na real eles não tem nada a me ensinar. Ou não tem nada a ensinar pelas vias que foram sendo refletidos e discutidos, pela maneira que foram sendo digeridos.

Algumas coisas tenho aprendido. Coisas que são do mundo de gente grande. Mundo feio! E por isso tenho medo de endurecer com esse aprendizado. Dai vem meu questionamento. Temos mesmo que passar por esses maus momentos para aprender algo? Tenho visto que não. Para se aprender de fato, eles devem ficar o mais claros possíveis. Como numa digestão: divididos em menores partes, absorvidas, aproveitados e rejeitados. Sendo dessa forma vividos os maus momentos não precisam se repetir para que entendamos o recado. E se eles estão se repetindo é porque você mesma está se fazendo mal em continuar insistindo em que deve aprender.

Deve?

Essa história não é só de ciúmes, como já disse. É sobretudo de amizade, de cumplicidade, de entendimento entre as pessoas. Algo não está em sintonia entre as pessoas quando uma acha que a outra compreendeu quando de fato não. E dessa forma nenhuma tem culpa, ou ambas são culpadas. O bonito é que quando estamos realmente dispostos mudamos as tramas da história. Podemos fazê-lo se quisermos. Na verdade, ai sim assimilarei melhor tudo e aprenderei. E não enfrentando pancadas na cara. Isso já não me ensina sobre isso, nem sobre o amor. É possível com ternura abraçar essas feridas e construir outra relação. Eu quero. Só não sei até que ponto continuarei endurecendo e não me permitirei o perdão. Endurecer me dói. Não era isso que eu queria ter aprendido. Mas foi isso que me ensinaste.

Foi um grande desabafo essa postagem. Um grande desabafo!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cais

Cais Milton Nascimento
Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de encontrar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar


http://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/cais.html#ixzz129UgFesJ





Olás-olás!
Como vão? Num vão estar?
Volto de Montes Claros, volto de uma convivência intensa de equipe, mas que não necessita de nada mais do que uma convivência intensa entre equipe. Vi novas montanhas, ou na verdade, não as vi. Ouvi o povo, sua realidade. Me senti do povo, ou nem tanto, exagero. Me senti foi um "Zé Mané" perto do povo. Mas ao mesmo tempo podendo contribuir a minha maneira, minha sincera maneira, o mais importante. Clara e de peito aberto.


Volto.


A gente se dá mesmo. Isso não tem problema algum. É coisa bonita, é coisa vivida. Mas dar pra quem? O que se recebe de volta além de silêncio e insegurança? Pra se ser nuvem, mesmo nuvem junta, deve-se voar...deve-se aguar em qualquer sertão..."Deixar o coração bater sem medo.." O meu coração é forte. O meu coração tem pra si algumas coisas claras. Mas, pobre, ainda não sabe se virar só. Não o quer. E por isso o cais do Milton Nascimento. " Para quem quer me seguir, eu quero mais!". Eu quero mais! Como deve ser numa relação de verdade, dos dois lados, sem pesar nem um nem outro. 
Serei boba demais? Darei muito minha cara a tapa, meu coração ao vento? Quando de fato descansarei? Quando terei confiança nessa humanidade? Erguer as mãos, sem medo de cair? Acho que nunca. Mas se tenta. E tentar não me deixa cair no desânimo nem no arrependimento. Que triste uma vida sem riscos! Mesmo que rabiscos!
Há coisas que aprecio nessa vida e ninguem me fará olhá-las de modo diferente. Acho que amo demais o ser humano, senão já o teria abandonado, me abandonado. Ainda devo ter minha Aninha criança muito forte em mim pra não deixar cair as pontas. Me orgulho de mim. Não ajo de má fé, não procuro machucar ninguem, por isso minhas ações buscam ser sinceras comigo e com os demais. Mesmo que pra uns isso seja apego demais, mas foda-se! Sou assim, de outra maneira não serei eu. Há coisas que preso demais nessa vida. Uma delas é poder ser abrigo, ombro amigo para auqele amigo que possa precisar. Isso sempre fui. Isso me falta. Um amigo que deixe seus egoísmos de lado e me viva, um pouquinho que seja. Mas amizade nem amor, não se exigem. E vagando vou. Sem problema algum. Sabendo que terei a mim mesma sempre. Com minha força e com meu desequilíbrio bêbado. Não preciso de mais ninguem. 
Preso o sorriso de minha mãe. Mãe...minha pequenina mãe. seu sorriso já tão pouco sincero, tão pouco dado. Mas não quero alimentar culpa alguma. Apenas a amo.
Preso meus amigos. Minhas doces pérolas, flores, perdidas por esse mundão. Em tantos cantos! Sabendo que o que o compartilhamos por momentos foi vivido e sincero. Isso não se apaga.
Preso todos os seres, independentes de quem forem, do quão toscos forem. Pois sou bióloga de nascência,não de excremência acadêmica. É algo que não se insere, não se aprende nem ensina.É algo que arrepia o corpo com a mais leve cor. 
Sou infantil, ingênua demais pra esse mundo. Onde haverá alguem pra compartilhar comigo essa ingenuidade? Por que talvez sozinha eu já não possa mais!
Assim sou. 
O meu eu se entrega. Mas também sabe se retirar. 
Minha cabeça gira. As lágrimas secam. "Com sabor de vidro e corte."
Não quero endurecer. Quero ainda a Aninha a cantarolar, solta, bonita, colorida. Nada a matará. Nada. Ela é mais forte que qualquer outra coisa neste mundo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

reviravolta

meia volta volver: mudar foi tudo que pude!
se fechar bem os olhinhos pra prestar atenção no que está rolando na minha vida, eu nem acredito.
Tô trabalhando num projeto que eu reconheço seu significado, importância e poesia.
Tô de mala e cuia quase prontas pra partir de casa e ir morar com mais cinco meninos, entre eles, meu amor.
É coisa doida. Coisa que tem que rolar com calmaria. E foi rolando até chegar neste hoje.
sem mais, uma pausa. e um abraço!

[um dia vai ser] (Paulo Leminski)

pelos caminhos que ando
 um dia vai ser
   só não sei quando

talvez o quando seja agora. sem muita vigília, ele sempre o é.

sábado, 2 de outubro de 2010

A sinestesia de Recife










Hoje encerro minhas falâncias sobre aquela terra quente onde passei alguns meses de minha vida. É certo que não fiz muitas amizades por lá. Talvez uma amizade de fato. Uma pena, pois delas precisei bastante em certos momentos. Mas soube tirar sorrisos de minha estadia. Quando do chá de canela na padaria do bairro, sempre as cinco da tarde, por exemplo. Pequenas coisas que me faziam admirar a vida. Sinestesia pura é passar por Recife. Sentir seu cheiro difícil de se acostumar, ver suas cores, sua quente gente, seu rebolar. Uma coisa que me chamou a atenção, e que sempre me chama nas cidades pelas quais passo, é a arte na parede. A relação que a cidade tem com a arte, com o visual. Há vários graffites interessantes em Recife. Aqui deixo alguns.Pra alegrar os olhos!