sábado, 8 de dezembro de 2018

Os sulcos estão aí. Não há nada que os faça deixar de existir. Cada lágrima, cada má escolha, cada contratempo. Existiram. Não há nada a se fazer quanto a sua existência. Mas a sua sim. Equilíbrio. É o auge da busca da classe média. E você está nela. Nessa média, nesse morno. Quanto mais se escreve, quanto mais se fala, quanto mais não se evita, menos morno fica, mais fundo se vai. Ela tá indo fundo. Ou ao menos achando que está. Pra variar. Sim, disso se trata a vida. Pura tentativa. Tentativa de amar, tentativa de ser livre, tentativa de construir. E tentando a gente vai vivendo, amando, sendo... Não tem o que fazer. O equilíbrio é puro dinamicismo, um que leva ao outro que vai no um, que leva ao outro. Pois bem. Era pra ser sobre raiva de polícia ou cachorro. Acabou sendo sobre outra coisa. Depois dizem que o que escrevo não é bobeira. Podia até contar sobre o sonho que tive com ele. Esse menino que está na minha vida há tanto tempo... 20 e tantos anos. E o tive tão perto e foi tudo tão rápido, frágil, sem existir. Existiu? Quando ligava pra ele, devia ser na greve do CEFET... Ligava para ouvir sua voz. "Ele tá jogando bola com os amigos, já vem". E não é que vinha mesmo? Queria lembrar o que a gente conversava... E não é que naquela minha timidez toda eu não era bem corajosa? Pegava os cartões telefônicos e para acabar mesmo, para entrar na minha coleção, fazia um interurbano lá no começo da rua. Barriga doía, pensamento ia longe. E foi assim um tempo. Quantas ligações não teria feito? Não sei. Mas fazia. E hoje ele voltou pro meu sonho. Por que será essa volta? Não tem ligação com meu dia. Não teve sequer premonição. Era algo louco. A gente vivendo com nossas famílias na casa de sua infância, que eu também frequentei. Coisa sem compreensão. Sonho mesmo. O que será desse menino? Primeiro amor, dizem. Bem bobinho, mas já cheio de papeis. O amor começou quando ele perguntou quem eu achava mais bonito da sala. Eu, como sempre, tentando agradar, falei que era ele. Mas na verdade achava o outro mais bonito. E no outro dia, chegando à escola, a notícia fresquinha era que éramos namorados. Coisa de criança. Boba e tão potente. Não sei porquê sempre dou tanto valor a essas coisas tão pequenas e me apego tanto a isso, sabe? Minha infância tem tantos sabores e eles são tão nítidos! Mas enfim. O namoro era isso. Nunca teve beijo. Nunca teve mãos dadas. Lembro de mandar cartas escondidas. Não me lembro de receber. Na verdade, não sei o que foi essa relação. Lembro quando falei que ia embora. Já não éramos namorados. Ele ficou tão triste. Aí me toquei de que era algo palpável. Não era mera brincadeirinha. As crianças brincam seriamente. E acho que essa foi a despedida que mais doeu em todas as mudanças que fiz. Deixar esse amigo, Deixar essa vida em suspenso. Esse amigo... Mas antes, em algum momento a gente parou de namorar. Não sei o motivo, não me lembro. Lembro que já não teria mais A e E no coração rabiscado no meio fio. E a amiga mais velha disse que era hora de trocar o E pelo M. E eu tinha tanta pena disso. De repente colocar outra pessoa ali. O com quem será não seria mais com ele...Coisa estranha! Por que? Não lembro. Acho que foi assim de repente como começou. Mas os trabalhos ainda eram com ele no grupo também e uma vez em casa minha ele contou nosso segredo. E eu, sempre sensível, fiquei com tanta vergonha de ser exposta. Chorei. Briguei. Coisa de criança. Seriedades. Mas se for parar para pensar, desde pequena são os meninos que decidem as relações comigo. Será? Grande afirmação. Sempre tive meus namoradinhos. desde pequena. Coisa de criança. Mas esse menino me marcou por toda a vida. Anos depois voltamos a nos ver diariamente. Já adolescentes. E, bem, coisa de adolescente... sempre estava eu tão tímida, tão boba. Mas mesmo assim, entreguei a ele uma carta me declarando. Sempre querendo ser sincera, clara. E foi de despedida. Novamente de despedida. E ele sempre tão doce, receptivo. Coisa estranha. Nunca tivemos nada além de crianças. Tiveram emails trocados, se via muito carinho, respeito. Como teria sido se algum dia tivessemos algo? Será que quando a gente é criança a gente sabe mais das coisas do que hoje em dia?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Vem. Mas venha manso. Venha brasa, mas não queime tanto. Venha devagarinho como foi ter te visto por primeira vez: de surpresa, bem Cabreira mente. Venha no improviso, mas venha semente. Vem, que quero ser sorriso e só isso. Venha, se ocupe, há muito pra gente prosear, tirar os mofo, limpar as beiradinhas daquele canto que ninguém mais viu. Venha, que já não quero esconder. Quero mostrar o mundo, quero criar o mundo com você. Se assim você vier. Mas se não vier, me deixe com esse gosto de ter sentido isso pelo menos um pouco. O gostinho amargo e doce que todo dia nasce em cada canto de boca de todos nós.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Faz sentir. Dignamente sentir. Faz perceber que foi real. Algo. Paupavel. Pra ti. Que seja. Faz o tempo absorver o aprendizado. Você, respeitar seu passado. Cicatrizar a cor e a dor. Faz mal não. Você vai ver a pessoa que fica depois desse tempo silenciado. Recolhe. Pra colher lá na frente. Honre a pessoa que tu tem pra si. Você sabe. Aquela. Tá indo, você sabe que tá. Mas respeite os sinais. Se jogue, mas contigo. Nem contido. Contigo. No fim, nesse caminho bonito, vc vai ver que tudo valeu. Porque é verdade o que o mestre diz. O que importa é a travessia.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Sabe, estou aqui começando a escrever, tentando organizar as palavras para que possam ser entendidas primeiro por mim. Fato é que fico admirada com a capacidade do gênero masculino, aquele homem de privilégio, nem precisa ser branco, mas tem privilégio, de mentir. Mente. Mente assim, com a cara lavada. Mente e depois diz que você é a louca. Sendo que você está se guiando por seu instinto. E no fim, mais uma vez, seu instinto estava certo. Homem mente. Fico também surpresa com a capacidade dele, esse homem em específico, em piorar as coisas que já estavam no fundo do poço. Era possível chegar mais fundo? Ele mostrou que sim. Ele traiu totalmente minha confiança. Mas desta vez ele perdeu meu respeito ou qualquer admiração que eu pudesse ter dele. Depois dessa última mentira, como ele disse, sua máscara caiu, finalmente. E o que vi? Pura mentira, enganação, manipulação. No fundo mesmo? Privilégio por ser homem. Por ser homem acha que pode inventar histórias para uma mulher achar que ele a ama. Inventa um personagem que depois fica tão insosso e ridículo que só pode mesmo ser de um conto de fadas. Coitado. Dessa face que se mostra fica só estilhaços de algo que já não era nada. Um espelho roto, sem valor. Uma história mal contada, uma transa sem gozo, ou melhor, o gozo falso da mulhersinha que por pena geme pro seu maridinho, esse ser digno de pena. Você, no fim, mostra sua cara. Essa que você sempre teve e nunca me deixou ver, ou achou que não estivesse vendo. Pois bem. Parabéns por ela. Deve ter sido árduo tê-la construído, achando que nós, mulheres, somos meras pecinhas do seu quebra-cabeças, prontas para encaixar no seu plano asqueroso pra essa vida morna de manipulação. Te conheço há tão pouco tempo e vejo bem claro o que você é. Mas o que você é, fica contigo. Esse caminho é só seu. Não cruza mais com o meu. E ai de você se cruzar. Estou imune, está me ouvindo? Por meus passos nem seus olhos se atreverão a passar. Você provou de minha doçura. Agora tem o meu sabor amargo. Esse é o que terás pro resto da sua indigna existência. Porque é isso que você faz com a vida: a torna indigna nas suas mãos. Tudo o que tocas vira sofrimento e mentira. Mas a mim não me tocas. Essa música não rola mais. Continue com seu mundo de mesquinhez, inveja, traição e mentiras. Será que um dia você vai sair dessa roda que inventas? Não me interessa em saber esse final. Não me interesso em saber de ti. Você que faça seu mundo, pague suas penas, sinta suas culpas. Não sou eu a te perdoar, nem a te recriminar. Você não existe pra mim.