sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

Conversa

 Cecília, com olhar apaixonado e triste senta-se ao meio fio, a fitar-se no espelho. Diz, como que olhando pra dentro:
" Que procuras? -Tudo. Que desejas? -Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão." 
Manoel, ao ver aquela bela mulher sozinha vendo a vida passar, senta-se a seu lado e traquinamente diz a seu ouvido:
_ Pois abra a mão e deixe-o voar! "Livre é quem não tem rumo!" E quero-quero faz  rumo em qualquer lugar!

Os dois abrem aquele sorriso e Manoel, com um tapinha nas costas, diz:
_ Tudo o que não se inventa é falso!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vem sentar-te comigo, Lídia

 Hoje trago no peito uma poesia a mim dada como uma flor. A cheiro, a vejo, a beijo. E reconheço nela minha vida, meu amor. Agradeço e agora repasso. Para que, flor que é, desabroche em outros peitos!


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranqüilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pra começar o ano.

Pra começar o ano, duas literagens. Uma seguida da outra. Uma foi num dia, a outra num seguinte. O que comprova que meu pensamento e coração são vacilantes. Mas, ah! Que bobeira não se deixar levar pelo sonho!

Desesperança raivosa  (13 de janeiro)
Escrevo à desgraça, ao desespero, ao desequilíbrio e à desilusão mais lúcida. Escrevo aos que sorriem para se lembrar de algo que lhes fazia bem, mas ficou preso em alguma memória feliz, alguma lembrança pura de quem era. Escrevo para aqueles que já se sentiram sem ninguém no mundo que os entenda sem mais querer saber ou torcer a testa como sinal de incompreensão. Coisa rara. Escrevo àqueles que se sabem de cor, que se repetem e que se complicam. Criam cores escuras só por diversão e depois já se esqueceram como colorir, chegaram ao seu limite, de tanto testá-lo. Mas olham pra trás e pensam que nada viveram, que sempre estiveram no esboço de seu viver. E o esboço chegou até ao pescoço. Mas esses aqueles sabem bem que é tudo fruto de si. E por isso a grande desilusão no seu andar. Não se sentem mais fortes, sem a esperança que tanto sentiam.



Hoje, sorrí.    (no dia seguinte)
Hoje, sorrí. E sorrí tranquilamente. Tinha tempos que não era assim. E foi rápido, momentâneo, orgástico. Foi acompanhado com um "Nossa!"e seguido de uma volta à leitura. Conseguí ler o que queria, com o tempo que queria. Livre, de certa forma, das preocupações que se apoderaram de mim nestas últimas semanas.Faço tudo parecer tão pesado, como pode alguém estar comigo por amor? Pensamento pesado novamente. Precisava era de um som de pífano, que nem este que escuto agora. Acho que tô numa fase muito muda para novas pessoas. E quando me pego solta, é uma surpresa. Bom, que ainda existem esses momentos de soltidão, saindo da solidão. Mas tem algo em mim que eu ainda não sei que me incomoda, que me impede ser tranquila. Não sei bem o que é. Não sei mesmo. Sei que é algo confuso. Não me sinto completa com nada, não me sinto mais tocada ou comovida por muitas coisas ou pessoas. Nem pelo meu próprio sofrimento. Fico ciclando-me em ruminações estúpidas. tentando me alienar de mim e tentando sorrir. como hoje, dia que sorrí me esquecendo.


E, pra pelo menos, sacudir um pouco dessa poeira que minha rocha intemperiza, venho admirar a lua no fundo de casa. E dai me lembro. As imagens são o que as palavras não souberam dizer. Algo assim disse Manoel de Barros. Hoje meu coração tá como essa lua.