segunda-feira, 22 de julho de 2013

Poema

A poesia que vou colocar aqui já é repetidamente compartilhada por muitas pessoas. Assim como o meu gosto por este poeta já é repetido. É como repetir um bolo de chocolate que gostamos muito. Na verdade, é realmente como comer um bolo de chocolate. Ele, assim como a poesia de Manoel de Barros, tem o poder de nos deixar com um sorriso no rosto, com o gosto de que a alegria é possível e que se deve, sim, deve-se, tirar as lágrimas da cara. Cada vez mais me convenço disso e cada vez mais gosto da poesia de Manoel.

Ai vai:

Poema

A poesia está guardada nas palavras- é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

O que gosto do Manoel é essa capacidade de honestidade no que escreve. E de como consegue tirar beleza das coisas mais simples, não que elas não tenham beleza por si só, mas ele transcreve essa beleza pro papel de uma forma óbvia, que imbecil é quem não consegue ver a partir do que ele escreve. E o riso que ele me provoca é curador, reconciliador com a alegria e a pureza que há em mim. Manoel é sujo e por isso provoca as purezas mais sinceras!

Diga lá o que achou. Gostou?

domingo, 21 de julho de 2013

Chuva, ou melhor, o pós-chuva

Queria ser como o João de Barro, ou qualquer outro pássaro. Eles sabem receber bem a chuva, pois sabem que o "pós chuva" virá e será lindo, acaetanamente falando.

Vem ela, poderosa, vibrante, desesperada lava tudo, deixa tudo revirado.
Passarinho nessa hora, deve fechar olho que nem a gente e dizer: "Agora deixa. O que há pra fazer?"

Mas diferente de mim, passarinho não reclama, nem acorda triste porque sabe que vai ter que se molhar pra ir pro trabalho.
Ele acorda e dá logo um canto de alegria, enchendo o peito, saudando o sol e seus momentos breves de secura e calor. O saúda e vai logo agora beijar o chão, a terra, conectado com tudo que é vida. Pássaro é sagrado.

Beija o chão e este lhe presenteia com as mais suculentas prendas, ainda meio absurdadas com a força da chuva do dia anterior. Eles se conectam no alimentar, passam a ser um, a ser tudo.

 Pássaro é sagrado.E paciente. Deve ser mesmo é feliz. Acordar com bom humor, não ligar pra o caos que a chuva deixou sua casa. "É assim mesmo, o que se há de fazer?"

Um dia viro pássaro. Não quero sabedoria mineral por agora, como deseja Manoel, quero mesmo é a dos pássaros. Pela humildade de fazer do barro a sua morada, sua cozinha, seu canto.

sábado, 20 de julho de 2013

Chão

É tanta coisa pra pouca letra. É tanto sentir pra pouca tela. É tanto sorrir pra tanto digitalismo digitalizante ínfimo de qualquer coisa que possa ser, por si só, infinita.

É chão novo, sabe? É chão novo, sabe. ..
.
... Os Dedos suspiram, dizem: "Qualquer coisa, qualquer coisa."
O Coração diz: "Aquilo lá cairia muito bem...".
O Pensamento vem e tira todo mundo do sério:
"Nada de coisa alguma, muito menos aquilo." "Quem lerá"?- pensa. "O que dirá?"- regogita. "O que fará?" -castra.

E todos permanecem no chão anterior. Sujando os dedos nas mesmas esquinas.
"Pensamento é quem pode. Já vai lá quando quer..."

Todos estão no novo chão. Escolha conjunta: Dedos, Coração e Pensamento. O chão dizem que é novo. Dá alegria, é verdade. Dá satisfação, não há como mentir. E quanto mais novo, mais mistério. E aí, com o mistério, há alguém novo entrando: o Olhar:
 "-E isso daqui, o que é?"
"-Mas o que tu acha? Aquilo, uai!"
"-Aquilo lá que não caberia de ser...seria o outro, talvez. Deixe-me dizer..."
"-Espere. Aquilo lá é como tudo."
"-E não é nada daquilo e muito menos igual. Aquilo é novo e chega! Dos vícios de sempre já sei, preciso de novos. Virarão vícios. Mas isso é o com o Pensamento. A mim o que me cabe é descobrir.E vamos."

E estamos. Cada canto um novo tato, um novo sentimento, uma nova reflexão, uma nova cor. Mesmo com chão de outros.

Cabe dizer que aqui tem muito chão  outros e tá tudo debaixo do tapete, que eu sei. E não é só chão branco de frio, não, não. Aqui tem chão que já ouviu tambor, batuque. Parece. É só o que parece. Novo tem disso: pura aparência, até o Olhar tornar familiar, o Coração fincar cativares e o Pensamento viciar.

Mas até aí tem muito chão. Chão é o que não falta! Que os Dedos e seu prolongamento saibam suportar a poeira com tato, com muito tato.

É chão novo, sabe? Tem dessas coisas...