quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nunca haviam se visto daquela maneira. Talvez fosse o embrigar da luz de fim da tarde e a boa conversa. Nunca reparou naquelas mãos suaves que lhe serviam o chá. E ela naquele sorriso jovem.
 Eram duas, às cinco da tarde.

Tinham se conhecido casualmente. Ela de muito longe a cumprimentou junto a seu namorado. Chapéu nos cabelos ruivos. Aperto nos braços, um abraço. Bonita moça!-pensou. De leve, sentiu um ciúmes.
Passaram dias sem se ver. E quando a presença foi comum, a sós, compartilharam lágrimas no filme que sempre a emocionava e hoje entristecia sua mais nova amiga. Desanuviar!

Risadas foram acontecendo. Ficava intrigada com aquela mulher. Ela lhe despertava coisas fantásticas e ao mesmo tempo ruins. De fato, ela a revolvia.

Mas o estranhamento foi passando e as duas passaram a trocar rotinas uma com a outra. Conversavam de seus amores. Riam dos homens que conheciam, aconselhavam-se, sugeriam empregos. Ao longo dos anos, Carmen contou 5 namorados que Felipa teve. Ela mesma havia perdido a conta dos seus.

Carmen era mais velha. Havia se cansado de amar do jeito de sempre. Muitos homens a fizeram chorar. Perdeu-se um pouco de seu caminho. Felipa ainda era jovem. Queria o mundo. O tinha, de fato. Usava toda sua energia para seus amores, suas conquistas, seu dia-a-dia. E não cansava de sua alegria infantil.

Eram cinco da tarde. O frescor do pós-chuva de verão atingia seus lábios, seus seios. Diego havia saído. Manoel chegaria logo. A canela do bolo fazia uma agradável combinação com o chá preto. Ouviram o esganar no quero-quero e se lembraram juntas de um dia de sol na grama, há muitos anos.
Fazia uma manhã e Carmen estava muito triste. Estava dividida entre dois amores. Não poderia escolher, não se permitiria. Felipa então, suavemente lhe tocou a nuca: "Quero-quero faz amor em qualquer parte. Amar também se ama desse jeito. Quero-te bem."

A lembrança girou como a colher na porcelana. E antes que Carmen atendesse a porta para Manoel, Felipa a pegou entre os dedos. Acariciou-lhe os braços.  Sorriram. Nunca se haviam olhado assim. Mas o sentimento viu-se sentido há muito. Carmen virou-se, afagou os cabelos ruivos de Felipa e docemente trouxe seus lábios junto aos dela.

Ali, duas flores desabrocharam para nunca mais murchar.




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