terça-feira, 20 de agosto de 2013

tic tic tic tic.
Sons do outro aposento.

sons deste.

A vida tem sons. Estes divergem do que a gente imaginou que fosse uma vida.
Quanta diferença há entre o que imaginamos e o que fazemos de nossas vidas. Quanta diferença há entre um aposento e o outro.
A gente imagina pra vida entrar num curso universitário pra...já nem lembro pra que mais. Talvez fosse só pela continuidade do caminho já traçado. Pra continuar traçando-o. Mas aquelas linhas já não iam fazendo sentido. Nenhum. Tá, vez ou outra fizeram sentido e muito. Ele vai mudando, aparecendo, se escondendo. Aliás, a gente que dá sentido pra tudo que a gente faz, não o sentido que faz a gente. Deixar claro. Fato é que naquele turbilhão de não-sentidos chega o momento de sair de lá. Sair de lá. Sair. Nunca soube o que queriam dizer com "Sair da bolha". Achava elitista demais. Mas não é bem isso. É sair de uma zona de conforto que construímos durante algum tempo na universidade. Nos acostumamos a lidar com certos tipos de pessoas, com certos tipos de problemas, a esperar certos tipos de comportamentos. E aí quando se ganha o diploma, acordamos, finalmente, pra os outros diversos mundos possíveis. Não que eles não fossem possíveis quando estávamos na bolha. A questão era a rotina, o acostumar-se. Será que me faço entender? Aí de repente se sai com tanto alívio, com tanto entusiasmo, correndo pro novo, pro agora. Mas não é bem assim. São só três meses, nem tenho o diploma de pele de carneiro gravado com letras de ouro em mãos. É cedo. É ir com calma. Entender isso tá muito mais distante do que parecem estar os sons dos aposentos diferentes um do outro. Entender isso requer pele, requer tino, requer tato e agora choro. Requer choro mesmo. É assim que lido com as experiências de minha vida. Todas passam por essa fase. Entendo as coisas pintadas à lágrima. Dou-lhes sentidos de coisa que escorre dos olhos, da mente, do coração. Assim vai se fazendo tangível. Não é fácil. E vem o dilema do não se prender ao dinheiro e do precisar dele. Precisão real ou cultural? Quantas vivências estão além do dinheiro! Quantos significados são construídos sem ele. Mas a própria construção na ausência do dinheiro já é uma significação dada a ele. Somos valorados. Somos valorados...Sei que tudo passa, como li outro dia num jornal local alternativo, muito bom, por sinal, O Relevo. Somos como a chuva, tudo passa. Assim é. Não é preciso se agarrar a nada nessa vida, nem ao dinheiro nem à dor matinal de braço. Nada disso fica. Também construo sentidos escrevendo. Com a assinatura de uma lágrima. Lembra daquela lágrima que sempre mancha o papel ao longo daquela escrita de um diário ou de uma carta de amor não correspondido? Pois bem. Só que agora elas não mancham mais o papel, apenas alimentam de umidade a lã do meu poncho que me aquece nessa noite fria de Curitiba. Enquanto neste aposento se ouvem tic tic tic tic, no outro uma cama e o carinho me esperam. É preciso também dar sentido a isso. Mas na vida tudo passa. E já me repito.

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