A luz de fim de tarde tinha para ela um sabor
inigualável. Os róseos raios de sol formavam um só arrepio
ao beijar sua pele. O momento em que sentía todo o mundo, seus fenômenos e sua
vida. No ônibus, voltando de mais um dia, sentia o crescer invasor no seu
corpo, era a sua conversa preferida. Muda, sonhava… pensava em liberdade, em
amores, em lugares para se estar. Não, não tinha medo do fim do dia. Era como
fazer amor, renascer. Não entedia de onde vinha aquela energia sensual, apenas
a sabia. Sabia como de nascença, que movimiento fazer, qual a válvula para seu
prazer. Sabia. E era como um delírio, uma destruição. Ia para o seu zero,
cometia os maiores crimes, os setes pecados capitais, cuspia nos dez
mandamentos. Mergulhava no seu mais profundo e levava todo o mundo. Lá estaba
Roberto, sua mãe, o gato do vizinho. Sentia. Os papéis tinham o passado em sua
essência, de nada lhe serviam. Aquela rua não era caminho algum. O amor, era
velho. Sua miopía nao tinha lentes. Via! “ Não era o suficiente!”, dizia. Nunca
o serei, nunca será. Reiventar! Quem sabe à maçã seja possível um pouco mais de
pêssego? Quem sabe naquele escritório não caiba um pouco mais de pássaros? No
ar, voar. Quem sabe no seu bom dia…quem sabe na sua dança…no seu sorriso…na sua
mão? Sabia. Debruçava-se. Caía. Girava. “Somos feitos de verbos, somos feitos
de vento”, regogitava. E o gosto amargo na boca a jogava no sofá. Olhos sem água
na janela. Se reencontrava. Se conhecia. Se amou. “Eu sou”, bastava. Era sempre
a mesma nova conclusão. O mesmo empurrão, o cuspe na cara. Era sua epilepsia.
No jornal, os gols do dia. A mesma Bia?
Amar é acostumar-se com as loucuras do outro.
ResponderExcluirÉ sentir a falta de suas manias quando se ausenta.
=]
Um dos pontos do amor pode ser esse.
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