terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Cálculo renal

O sangue sai de mim e pra sair é porque já não é mais pulsante ou capaz de fazer pulsar. A vida é mestre em se livrar do que não precisa. Mas tenta sempre aproveitar o máximo que dá antes de descartar. Será possível fazer o mesmo com uma paixão ou um amor? Um dia a urina já foi sangue, o elemento mais precioso do nosso corpo. Mas uma vez decidido que vai virar urina, o corpo, na despedida, trata de reter as coisas boas e dispensar os restos, o tóxico. Uma interessante lição para o ser humano e sua paixão. Por que não se despedir numa ação introspectiva de aproveitar as coisas boas e se livrar das coisas ruins? Talvez o processo de dizer adeus a uma relação, seja qual for, seja doloroso porque estamos inconscientes, nos deixando impregnar pelas coisas ruins da relação. Se alimentamos o ruim, só podemos mesmo nos sentir mal. Aí criamos um outro que não existe. Achamos que ele não gosta da gente, que não se importa, que é fútil, grosso, ou não é tão bom de cama. Criamos essa repetida figura para nos dar um álibi no fim. Mas isso ajuda a não sofrer? Quando se toma consciência do processo da formação da urina passamos a prestar também mais atenção ao nosso sangue. Entendemos que o sangue vai continuar circulando apesar da separação e que aquela fração de que nos despedimos deixou muita coisa importante para continuarmos vivos, para continuarmos como sangue. O resto, pouco importa, virou descarte, virou urina. Continuamos mais vivos depois dessa filtração. Não podemos negar a necessidade vital da formação da urina e do muito que ela deixa para o sangue.

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