terça-feira, 29 de abril de 2014

A gente fica visualizando a vida meio que na janela meio que com pé na porta. Janelas demais pra pouca vida. Ando me esquecendo das coisas verdadeiramente desimportantes. E isso me dá uma certa dor no coração, amolecendo os olhos. Também não é pra tanto: ainda não perdi a cabeça. Tem alguns momentos de vigília que me lembro de tudo. Me lembro dos avós, da minha mãe, do meu irmão mais próximo. Mas aí novamente vou entrando na roupa usada, velha e rasgada de ser eu. Por fim, acho que é por isso que gosto tanto de dormir. Pra experimentar outras roupas, quiçá. É tudo covardia, já diria. E não deixa de ser. Metida nessa casa gelada, vendo rede social, esvaziando de sentido tudo que era cheio de cor. Tenho que aprender o som de ser tranquila. O som... Comigo é sempre reviravolta. E vai cansando. Depois encontro qualquer sossego e me dou por feliz. Todo mês me lembro. Todo mês sinto saudades. As roupas estão tomando sol no varal. Tirar o mofo. Quem sabe não me penduro ali também, atravessada pela alma? Quem sabe... O vento tocaria meus dedos, meus pelos. Os pedreiros olhariam assustados. Me respeitem, sou uma mulher atravessada no seu próprio varal. Nem a casa de uma mulher os homens respeitam mais. Já cedemos a rua, agora a casa? Esse mundo cansa demais. Fico aqui arrotando sentimentos e melancólicas enquanto o mundo tá se fudendo. E eu, o que faço com meus sonhos? O que faço pra deixar o dia mais bonito pra nós, passarinho? O que faço pra dar asas pros seus sonhos serem mais soltos, seu riso mais fluido. Cada um vivendo a beleza e a dor de ser quem é. Sem se esquecer muito de si. A gente vive é na brecha. E isso cansa, lutar pela brecha. Sei que exagero. É só a baixa progesterona falando. Mas é som das entranhas, então deve de ser sincero, creia. Creia, mas não creia tanto. Mulher é bicho maluco.

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